terça-feira, 30 de novembro de 2010

Atividades

Olá a todos!
Dando continuidade às atividades previstas em nosso curso, vejamos as perguntas que teremos que responder até a próxima terça-feira, dia 07 de dezembro de 2010:

1 – Tendo em vista aquilo que foi discutido em nosso curso sobre redes sociais, bem como seu conhecimento de mundo, discorra sobre as especificidades das redes sociais on-line comparando-as com a dinâmica das relações humanas fora da Internet.

2 – A seu ver, que atividades o professor pode propor para aliar o uso das redes sociais por seus alunos ao incentivo à leitura do texto literário em sala de aula?

3 – A partir das experiências discutidas neste encontro, que atividades de escrita poderiam ser propostas nas redes sociais, como o Facebook, o Orkut ou o Twitter, por exemplo?

Os arquivos com as respostas devem ser enviados para o e-mail ciberensino@gmail.com.

Até breve e bom trabalho!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Redes Sociais

Olá a todos!

Nesta terça-feira, dia 30 de novembro de 2010, ocorre nosso curso "Redes Sociais: Interação e Estrutura". Para que possamos interagir por meio dos comentários, destaquemos alguns aspectos importantes. De início, lembremos que, quando temos pessoas ou grupos que partilhem de interesses ou objetivos comuns, criando uma ligação ou mesmo uma estrutura social, temos uma rede social. No caso das redes sociais on-line, essa ligação se dá por meio da internet, ocorrendo justamente no ciberespaço e obtendo deste contexto seus elementos definidores e sua natureza. Deste modo, o Facebook, o Orkut ou o Twitter, por exemplo, primam por uma organização na qual os elementos participantes atuam de modo igualitário, sem hierarquias, com as mesmas possibilidades discursivas de qualquer um que com eles se relacionem. Evidentemente, cada um dos casos merece uma abordagem particularizada: a natureza informativa do Twitter contrasta com a dinâmica de página pessoal do Facebook, apenas para ficarmos com uma faceta específica. Contudo, a dinâmica colaborativa, o convite para o exercício da interação e do diálogo, tudo isso se faz presente de modo facilmente perceptível.

Mas não podemos simplesmente adotar tais redes como perspectivas pessoais e profissionais apenas por serem demandas do momento. É muito importante que possamos olhá-las de modo crítico, o que significa abordá-las com cuidado e rigor, mas sem preconceitos reducionistas. Para tanto - e para guiar nossas discussões nos comentários - vejamos algumas passagens que podem nos ser muito úteis:


Sobre a grande presença das redes sociais


Encontramos nas redes sociais uma massa de comunidades virtuais de todos os tipos e sobre todos os assuntos. Basta uma visita ao Facebook, Orkut ou Twitter para ter uma real dimensão dessa variedade. Interessante notar que alguns partidos políticos, tais como o Partido Democrata americano, por exemplo, se transformam em comunidades virtuais durante uma campanha eleitoral, oferecendo acesso gratuito à Internet, endereço de correio eletrônico, fórum etc. Na campanha eleitoral de 2008 pela Casa Branca, candidatos utilizaram blogs e microblogs (especialmente Obama) para que o eleitor pudesse saber exatamente o que eles estavam fazendo e onde. Vemos então a expansão planetária, em outra roupagem, dos antigos newsgroups, grupos de discussão por temas, que começaram a se desenvolver de maneira autônoma nas redes informáticas interuniversitárias americanas e europeias nos anos 1990. Hoje é difícil encontrar um internauta que não participe desas agregações sociais on-line. No Brasil, é raro um internauta ativo não ter uma página no Orkut, por exemplo. (LEMOS & LÉVY, 2010, p. 107)


Sobre a dinâmica da comunicação organizacional nas redes sociais


[Podemos destacar] cinco modelos de comunicação organizacional:

a. como transferência de informação, baseada em uma noção linear da comunicação entre um emissor e um receptor;

b. como processo transacional, quando o receptor tem papel ativo na desconstrução e construção do significado da mensagem que recebe;

c. como estratégia de controle que usa a comunicação como meio para controlar o ambiente organizacional;

d. como equilíbrio entre criatividade e constrangimento/coação/sujeição, modelo este que busca sintonizar o condicionamento das ações individuais às leis, regras e normas com a necessidade de promover mudanças e, deste modo, não tolher a criatividade;

e. como espaço de diálogo que permite a cada indivíduo a oportunidade de falar e ser ouvido. (SANTAELLA, 2010, p. 275-6)


Sobre as especificidades das redes sociais e suas possibilidades de utilização no ensino


Cabe destacar que, apesar de as plataformas poderem ser utilizadas em conjunto, cada uma tem sua função no ambiente ou processo educacional. Vejamos:

podemos usar o Twitter para, por exemplo, divulgar links e/ou tecer breves comentários sobre a disciplina ou algum trabalho;

MSN, GTalk, Skype e outros mensageiros instantâneos, por sua vez, permitem uma conversa particular, mais próxima, servindo, ainda, como espaço para publicação até mesmo de reclamações sobre um trabalho ou disciplina, como se estivessem em sala real, ficando a expectativa de que alguém responda;

o e-mail serve ao envio de materiais de apoio ou trabalhos, é apenas um mecanismo de disparo;

Facebook, Orkut e mídias do gênero são usados para postar os momentos das atividades, sejam estas de recreação, como festas de turmas, ou acadêmicas, executadas em aula, ou para divulgar os resultados dos trabalhos, funcionando como portfólio, ou seja, é o momento de visualização, o mundo pode vê-los, o mesmo valendo para blogs, fotolog, videolog e até para o Linkedin, embora este tenha a particularidade de servir como mídia social de caráter profissional.


Diante dessa diversidade de ferramentas e das possibilidades de uso, estar “presente” em uma única mídia pode não levar ao resultado desejado. É interessante que os professores acompanhem as manifestações dos estudantes em duas ou mais mídias sociais. Isso porque, ao acessarem-nas, seja a partir de suas casas, de lan houses, seja de qualquer outro ambiente, é como se os estudantes estivessem em uma sala de aula: quando entram no MSN, debatem sobre o conteúdo; quando acessam o Twitter, buscam o conteúdo divulgado pelo professor ou por outras pessoas da área, trocam informações com colegas, divulgam resultados de suas pesquisas sobre determinado conteúdo, entre outras ações; quando enviam algo por e-mail, é a conclusão de seu trabalho; quando

postam no Orkut, Flickr, Slide Share, Issuu, Scribd, Facebook, blog ou afins, apresentam o trabalho a partir do conteúdo abordado; no Linkedin, apresentam seu perfil ou currículo formal. É o ciclo do processo de aprendizagem e de inserção no mercado que se constrói nas mídias sociais. (COSTA & TONUS, 2010, p. 81-2)


Saiba mais:

COSTA, M. & TONUS, M. Mídias Sociais e educação: foco na informação e na interação. In.: SOARES, A. et al. #Mídias Sociais: Perspectivas, tendências e reflexões. Disponível em http://www.issuu.com/papercliq/docs/ebookmidiassociais . Acessado em 29 de novembro de 2010.

JENKINS, H. A cultura da convergência. Tradução Susana Alexandria. São Paulo: Aleh, 2009.

LEMOS, A. & LEVY, P. O futuro da intenet: em direção a uma ciberdemocracia planetária. São Paulo: Paulus, 2010. (Comunicação)

SANTAELLA, L. A ecologia pluralista da comunicação: conectividade, mobilidade, ubiquidade. São Paulo: Paulus, 2010. (Comunicação)

SOARES, A. et al. #Mídias Sociais: Perspectivas, tendências e reflexões. Disponível em http://www.issuu.com/papercliq/docs/ebookmidiassociais . Acessado em 29 de novembro de 2010.


Leiam, pensem e comentem!

A defesa de Lobato contra o parecer do CNE

Há algumas postagens atrás publicamos um texto de Marisa Lajolo criticando o parecer do Conselho Nacional de Educação vetando Caçadas de Pedrinho nas escolas brasileiras. Publicamos agora uma bem humorada resposta à prática do "politicamente correto" feita (acreditem!) pelo autor, lá do além, após muito ter se revirado na tumba...


REINAÇÕES DE POLITICAMENTE CORRETINHO

Não sei se vocês leram que o Conselho Nacional de Educação (CNE) pediu que meu livro, Caçadas de Pedrinho, fosse retirado das escolas. Motivo? No entender do órgão, algumas frases da história são racistas, especialmente as relacionadas à personagem Tia Nastácia. Como medida conciliatória, alguns sugeriram a inclusão de uma nota explicativa sobre o contexto histórico em que o livro foi escrito, de tal forma a evitar que esse clássico da literatura infanto-juvenil deixe de circular entre os estudantes brasileiros.

Minha intenção aqui não é me defender nem tampouco alimentar o fogo dessa polêmica. Meu ponto é outro. Gostei da ideia de introduzir uma nota explicativa. Mas em vez de contextualizar o passado, talvez fosse melhor dedicá-la a contextualizar o presente. Pelo simples fato de que as crianças de hoje perderam bastante da ingenuidade e estão afastadas do convívio com a natureza.

Aquela expressão “tirem as crianças da sala” não faz mais sentido. Elas assistem a tudo na internet. Um adolescente de hoje já viu mais sexo na web do que toda a juventude sueca da década de 70 viu nas famosas revistinhas que circulavam por lá. Qualquer letra de rap ou funk é mais do que suficiente para eliminar as reservas de inocência e pureza naturais da tenra idade. Em compensação, as novas gerações só identificam uma galinha em dois formatos: jpg e bandejinha de supermercado.

Ao reler minha obra sob esse prisma, fiquei preocupado. As histórias seguem boas, mas a narrativa, os nomes dos personagens e dos lugares podem servir de munição pesada para interpretações maliciosas e piadas de duplo sentido. Entendam, quando escrevi minha coleção de livros infanto-juvenis as crianças da idade do Justin Bieber não cantavam sobre amores impossíveis e não assistiam a filmes como Tropa de Elite desacompanhadas dos pais.

Por tudo isso, decidi acatar a sugestão de alguns. Redigi a tal nota de esclarecimento que deve ser incluída nos meus livros infanto-juvenis (se é que isso ainda existe).

Nota de esclarecimento (Nota de esclarecimento sobre o termo esclarecimento. O mesmo foi aqui empregado não no sentido de tornar mais branco, mas sim no de se fazer mais explicado, com mais luz).

A personagem Dona Benta sempre esteve na história original. Ela não foi incluída posteriormente como merchandising de uma conhecida farinha de trigo.

O carinhoso apelido de Narizinho não sugere que tal personagem tem por hábito o consumo de drogas ilícitas pela via nasal. Quem o tem é a Emília, que ganhou vida ao aspirar o tal pó de pirlimpimpim.

Não há nenhuma evidência de que o Visconde de Sabugosa, apesar de falar com grande sabedoria, seja transgênico.

Marquês de Rabicó. Eu sei, é um nome complicado. Pode zoar à vontade.

Não é o que está queimando no cachimbo que faz o Saci pular sem parar. É a falta de uma perna mesmo.

Por fim, Sítio do Picapau Amarelo não é uma menção à propriedade rural de um órgão genital masculino de um oriental. Eu jamais cometeria um pleonasmo como Pica-Pau.

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Postado (do além) por: Monteiro Lobato
Fonte:
http://www.blogsdoalem.com.br/lobato/

Literatura e redes sociais: "Todos contra D@nte"!

A produção literária, em vista da íntima conexão entre autores e movimentos sociais e culturais, apropria-se de forma inovadora de estruturas e modalidades comunicativas, estabelecendo pontes entre a invenção artística e os leitores. É o que pretendemos observar com a proposta de leitura de Todos contra D@nte, de Luís Dill (Cia. das Letras, 2008), considerando especialmente como os modos de narrar apropriam-se de ferramentas de comunicação do ciberespaço, comunidades, blogs, entre outros.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Entrevista com Eucanaã Ferraz

Eucanaã Ferraz também escreve literatura infantil. Vejam o artigo "Bicho de sete cabeças e outros seres fantásticos, de Eucanaã Ferraz: poesia pra não ter medo do desconhecido" de Ana Paula Klauck publicado na Revista Tigre Albino. Abaixo, o último parágrafo de seu artigo:


"A obra de Eucanaã Ferraz e André da Loba é bela e interessante, não porque lida com os medos dos pequenos e seus temores do desconhecido, mas porque os próprios autores não temem falar sobre aquilo que poucos conhecem, ou inserir elementos esquisitos e culturalmente distantes na arte da escrita e na representação gráfica. Pelo contrário, a riqueza mitológica apresentada valoriza a curiosidade infantil e confia no conhecimento dos pequenos para dar sentidos aos poemas do seu jeito. Dar crédito à criança é um dos méritos da obra; o livro apresenta um mundo que, por seus nomes e referências diferentes, pode parecer desconhecido, mas que em seu íntimo, os pequenos conhecem bem. Ligando culturas diferentes e trazendo elementos novos, Ferraz brinca com o medo e a curiosidade recorrentes na infância e, com humor e uma linguagem simples e lírica, faz uma obra de valor, mas, mais do que isso, uma obra que valoriza seu leitor." (Ana Paula Klauck)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Certificados da 2a JIOP - retirar no DLE

O Projeto Outras Palavras informa que os certificados da 2a JIOP estão prontos e devem ser retirados na secretaria do Departamento de Letras (DLE) com Daiana (pela manhã e tarde) ou com Edilson (pela tarde e noite). O mesmo vale para quem ainda não retirou sua Revista JIOP (n. 1). Informamos também que os textos (contos e poemas) expostos no Varal Literário durante o IV Sarau Outras Palavras foram publicados na Revista Outras Palavras
durante os meses de outubro e novembro. Confiram!

Marciano Lopes
Coordenador do Projeto Outras Palavras

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Novo Curso de Extensão: Redes Sociais: Interação e Estrutura

Olá a todos!

Após o sucesso de nosso primeiro Curso de Extensão ("Leitura e escrita em blogs), teremos, no dia 30 de novembro de 2010, na Universidade Estadual de Maringá, o novo curso de extensão “Redes sociais: interação e estrutura”, que visa atingir professores das redes municipal e estadual de ensino, alunos de graduação e pós-graduação, além de demais interessados. O curso prevê um investimento de R$20,00 (valor único) e oferecerá discussões sobre os seguintes tópicos:


- Introdução às redes sociais: aspectos teóricos

- Rede social orkut: interação e estrutura

- Rede social facebook: interação e estrutura

- Rede social twitter: o que é e quais são as possibilidades do micro-blog?

- Redes sociais e ensino


Além disso, o curso prevê uma carga horária a ser cumprida em atividades extraclasse na internet visando práticas de leitura e discussão de redes sociais.


Ministrantes: Tânia Braga Guimarães, Marciano Lopes e Silva, Márcio Roberto do Prado, Rosa Maria Graciotto Silva, Marinês Zanini e Alice Áurea Penteado Martha.


Data

30/11/2010

Local

Auditório do CCE (Bloco F-67)

Horários

Período matutino: início às 07:45

Período vespertino: início às 13:30

Número de vagas

140 vagas

Inscrições

R$ 20,00 (valor único)



Como de hábito, acompanhem as próximas postagens sobre cada um dos temas e preparem-se para uma rica discussão que será enriquecedora para todos nós!



INSCRIÇÕES (até o dia 24/11/2010): apenas R$ 20,00 Como fazer?

a) Anote o número do Código de Recolhimento: 2625

b) Entre na página da PAD-UEM e digite o número anotado no campo "Guia de Recolhimento". Preencha-o com as informações solicitadas (Nome, CPF e valor da inscrição) e o boleto bancário será gerado.

c) Faça o pagamento no banco (Caixa Econômica Federal) em até dois dias e você estará inscrito. Se o pagamento não for feito em tempo hábil, será necessário gerar novo boleto. Para isso repita o procedimento aqui explicado.

Para entrar na página da PAD-UEM, clique aqui.

ATENÇÃO:

Guarde o recibo de pagamento para apresentá-lo no dia do evento.


Maiores informações: Secretaria de Letras a Distância, com Gabriel ou Sarah, no telefone (44) 3011-4914

sábado, 6 de novembro de 2010

PERIGO! Conselho Nacional de Educação CENSURA Lobato!


Quem paga a música escolhe a dança?

Marisa Lajolo*


“Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, está em pauta e é bom que esteja, pois é um livro maravilhoso.

Narra as aventuras da turma do sítio de Dona Benta primeiro às voltas com a bicharada da floresta próxima e, depois, com uma comissão do governo encarregada de caçar um rinoceronte fugido de um circo. Nos dois episódios prevalecem o respeito ao leitor, a visão crítica da realidade, o humor fino e inteligente.

Na primeira narrativa, a da caçada da onça, as armas das crianças são improvisadas e na hora agá não funcionam. É apenas graças à esperteza e inventividade dos meninos que eles conseguem matar a onça e arrastá-la até a casa do sítio. A morte da onça provoca revolta nos bichos da floresta e eles planejam vingança numa assembleia muito divertida: felinos ferozes invadem o sítio e – de novo – é apenas graças à inventividade e esperteza das crianças (particularmente de Emília) que as pessoas escapam de virar comida de onça.

Na segunda narrativa, a fuga de um rinoceronte de um circo e seu refúgio no sítio de dona Benta leva para lá a Comissão que o governo encarregou de lidar com a questão. Os moradores do sítio desmascaram a corrupção e o corpo mole da comissão, aliam-se ao animal cioso da liberdade conquistada e espantam seus proprietários. E, batizado Quindim, o rinoceronte fica para sempre incorporado às aventuras dos picapauzinhos.

Estas histórias constituem o enredo do livro que parecer recente do Conselho Nacional de Educação (CNE), a partir de denúncia recebida, quer proibir de integrar acervos com os quais programas governamentais compram livros para bibliotecas escolares . O CNE acredita que o livro veicula conteúdo racista e preconceituoso e que os professores não têm competência para lidar com tais questões. Os argumentos que fundamentam as acusações de racismo e preconceito são expressões pelas quais Tia Nastácia é referida no livro, bem como a menção à África como lugar de origem de animais ferozes.

Sabe-se hoje que diferentes leitores interpretam um mesmo texto de maneiras diferentes. Uns podem morrer de medo de uma cena que outros acham engraçada. Alguns podem sentir-se profundamente tocados por passagens que deixam outros impassíveis. Para ficar num exemplo brasileiro já clássico, uns acham que Capitu (D. Casmurro, Machado de Assis) traiu mesmo o marido, e outros acham que não traiu, que o adultério foi fruto da mente de Bentinho. Outros ainda acham que Bentinho é que namorou Escobar ... !

É um grande avanço nos estudos literários esta noção mais aberta do que se passa na cabeça do leitor quando seus olhos estão num livro. Ela se fundamenta no pressuposto segundo o qual, dependendo da vida que teve e que tem, daquilo em que acredita ou desacredita, da situação na qual lê o que lê, cada um entende uma história de um jeito. Mas essa liberdade do leitor vive sofrendo atropelamentos. De vez em quando, educadores de todas as instâncias – da sala de aula ao Ministério de Educação – manifestam desconfiança da capacidade de os leitores se posicionarem de forma correta face ao que lêem.

Infelizmente, estamos vivendo um desses momentos.

Como os antigos diziam que quem paga a música escolhe a dança, talvez se acredite hoje ser correto que quem paga o livro escolha a leitura que dele se vai fazer. A situação atual tem sua (triste) caricatura no lobo de Chapeuzinho Vermelho que não é mais abatido pelos caçadores, e pela dona Chica-ca que não mais atira um pau no gato-to. Muda-se o final da história e re-escreve-se a letra da música porque se acredita que leitores e ouvintes sairão dos livros e das canções abatendo lobos e caindo de pau em bichanos. Trata-se de uma ideia pobre, precária e incorreta que além de considerar as crianças como tontas, desconsidera a função simbólica da cultura. Para ficar em um exemplo clássico, a psicanálise e os estudos literários ensinam que a madrasta malvada de contos de fada não desenvolve hostilidade contra a nova mulher do papai, mas – ao contrário – pode ajudar a criança a não se sentir muito culpada nos momentos em que odeia a mamãe, verdadeira ou adotiva...

Não deixa de ser curioso notar que esta pasteurização pretendida para os livros infantis e juvenis coincide com o lamento geral – de novo, da sala de aula ao Ministério da Educação – pela precariedade da leitura praticada na sociedade brasileira. Mas, como quem tem caneta de assinar cheques e de encaminhar leis tem o poder de veto, ao invés de refletir e discutir, a autoridade veta. E veta porque, no melhor dos casos e muitas vezes com a melhor das intenções, estende suas reações a certos livros a um numeroso e anônimo universo de leitores.

No caso deste veto a “Caçadas de Pedrinho”, a Conselheira Relatora Nilma Lino Gomes acolhe denúncia de Antonio Gomes da Costa Neto que entende como manifestação de preconceito e intolerância "de maneira mais específica a personagem feminina e negra Tia Anastácia e as referências aos personagens animais tais como urubu, macaco e feras africanas; (...) aponta menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano, que se repete em vários trechos do livro analisado e exige da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura".

Independentemente do imenso equívoco em que, de meu ponto de vista, incorrem o denunciante e o CNE que aprova por unanimidade o parecer da relatora, o episódio torna-se assustador pelo que endossa, anuncia e recomenda de patrulhamento da leitura na escola brasileira. A nota exigida transforma livros em produtos de botica, que devem circular acompanhados de bula com instruções de uso.

O que a nota exigida deve explicar? o que significa esclarecer ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura? A quem deve a editora encomendar a nota explicativa? Qual seria o conteúdo da nota solicitada? A nota deve fazer uma autocrítica (autoral, editorial?) assumindo que o livro contém estereótipos? A nota deve informar ao leitor que “Caçadas de Pedrinho” é um livro racista? Quem decidirá se a nota explicativa cumpre efetivamente o esclarecimento exigido pelo MEC?

As questões poderiam se multiplicar. Mas não vale a pena. O panorama que a multiplicação das questões delineia é por demais sinistro. Como fecho destas melancólicas linhas maltraçadas aponte-se que qualquer nota no sentido solicitado – independente da denominação que venha a receber, do estilo em que seja redigida, e da autoria que assumir – será um desastre. Dará sinal verde para uma literatura autoritariamente auto-amordaçada. E este “modelito” da mordaça de agora talvez seja mais pernicioso do que a ostensiva queima de livros em praça pública, número medonho mas que de vez em quando entra em cartaz na história desta nossa Pátria amada idolatrada salve salve. E salve-se quem puder ... pois desta vez a censura não quer determinar apenas o que se pode ou não se pode ler, mas é mais sutil, determinando como se deve ler o que se lê!

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* Prof. Titular (aposentada) da UNICAMP; Prof. da Universidade Presbiteriana Mackenzie; Pequisadora Senior do CNPq.; Organizadora ( com João Luís Ceccantini) do livro Monteiro Lobato livro a livro (obra infantil), obra que recebeu o Prêmio Jabuti 2010 como melhor livro de Não Ficção.